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                    VIAGEM AO CHILE  
                  13-10-2006 a 28-10-2006 
                    
                  Chile  é o fim do mundo. Literalmente.  
                    Desde muito jovem que estou ligado ao país por causa de meu amigo Roland Grau,  uma amizade muito forte, que marcou a minha juventude. Era artista plástico,  vindo de Santiago para Copacabana, onde nos conhecemos e, por intermédio dele,  iniciei uma intimidade crescente com a língua espanhola e com a cultura chilena  — Neruda, Huidobro, Parra. 
                    Cada povo tem sua idiossincrasia. Os peruanos são discretos e afetuosos; os  argentinos são mais invasivos, mas com muito calor humano; os venezuelanos são  alegres e brincalhões ; os mexicanos são mais formais, mas bastante afetivos.  Os chilenos parecem mais reservados, mas gentis no trato, um tanto  desconfiados. Foi o conde de Keyperting que, ao estudar o temperamento dos  chilenos, afirmou que eles são de briga... 
   
                    Com os brasileiros, as relações são muito amistosas. Pudera: não temos  fronteiras... Com argentinos, bolivianos e peruanos as relações podem ser mais  complicadas...  
   
                    Não pretendia voltar a Santiago tão cedo. Nenhum problema com o país, que me  agrada muito. Mas por causa de minha situação delicada em relação com a  Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación - UMCE. Há dois anos  atrás andei por lá e fui tratado com muita distinção e carinho durante o 6º  Congresso de Humanidades — evento que aconteceu alternativamente em Santiago e  em Brasília. Na edição de 2004, apresentei-me com um texto sobre o projeto  literário Terra Brasilis e o (já falecido) ator e professor Danilo  Lobo, da Universidade de Brasília, leu o Canto X  de meu texto Brasil Brasis durante um  recital de que participou também a cantora Elga Pérez-Laborde.  
   
                    Deveria voltar à UMCE para assistir a uma montagem de minhas “Canciones Per  Ver Sas”, com alunos do diretor Pedro Olivares. Ele havia assistido,  durante o 5º Congresso de Humanidades, em Brasília, a sessão de Canções  Perversas, com Elga Pérez-Laborde e o cantor  
  George Durand. Daí o entusiasmo dele pela montagem em versão castelhana.  Traduzimos os textos, seguimos avançando no projeto... uma das autoridades da  UMCE  havia  estado na função brasiliense do texto e saiu,  persignando-se. E colocou uma pedra no caminho da encenação chilena...  Considerou que não era texto para ser apresentado numa instituição de ensino.  Pior: para jovens. Censurou alguns versos por considerá-los heréticos e  pornográficos. Não sei se usou estas palavras mas, sendo uma religiosa, é  provável. 
   
  Pedro Olivares ficou muito embaraçado com a sua situação, e Elga também que é chilena e é quem se encarrega dos congressos que acontecem no  Brasil.  
                    Apesar dos argumentos e protestos (velados, através de  
  e-mails), acabaram desistindo do recital... 
                    Minha primeira reação foi a de desistir da viagem.  
                    No entanto, minha amiga Elmira Simeão queria ir e surgiu um outro evento,  em seguida ao da UNCE, e enviamos trabalhos para serem apresentados em ambos. 
                    O tal recital transformou-se em uma  “homenagem” em que o Pedro apresentou minha “semblanza”, leu dois poemas  meus e colocou, em play-back, uma das canções. Muito simpático. Mas  cometeu o “crime” de ler justamente um dos poemas censurados, suprimindo o  último verso... Um soneto mutilado. O verso é, em verdade, o de “pica”... 
                    Em castelhano diz-se “Amor que queda es el de pico”, que deve ser  grosseiro aos ouvidos locais... Muito estranho, porque os chilenos falam,  habitualmente, mais palavrões que os brasileiros... Estranha moralidade. 
   
                    Felizmente, o outro evento foi no Centro Cultural Mapocho, onde aconteceu a  Feira Internacional do Livro. Apesar de ser relativamente pequena, e com poucos  países participantes, foi um acontecimento cultural importante, a cuja  inauguração veio até  a presidente Michella  Bacharet. 
                    Durante quase uma semana mantive contato com bibliotecários, livreiros,  escritores e poetas no afã  de  estabelecer relações literárias e promover nosso Portal de Poesia  Iberoamericana, na forma discreta peculiar aos costumes locais. Também  porque — como em muitas outras cidades do continente — os autores ainda encaram  a Internet com certo ceticismo.  E para  minha tristeza, um dos contatos previstos — com o poeta Gonzalo Millan —,  não foi possível por ter falecido dias antes da Feira do Livro... 
   
                    Consegui, no entanto, entrevistas com a diretoria da Sociedad de Escritores de  Chile, com Consu´Arte, com o Centro de Estudos Brasileiros para a seleção de  textos chilenos para tradução e publicação na página. 
                    Como dizem no Equador, “menos mal”... 
                    
                
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